Nem sempre é o glúten: o que o pão francês revela sobre sua digestão.
- Carioca Offices - Redação
- 17 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de jul.

O pão francês é, sem dúvidas, um ícone da mesa do brasileiro. Seja no café da manhã, no lanche da tarde ou como acompanhamento de uma refeição, ele se mantém como uma preferência nacional. Com sua casquinha dourada, miolo leve e sabor familiar, está presente na rotina de muitas pessoas — inclusive daquelas que buscam uma alimentação mais equilibrada. Mas, volta e meia, ele entra na lista de vilões da nutrição. E é justamente sobre isso que precisamos conversar.
Muitas pessoas relatam desconfortos digestivos após consumir pão francês: sensação de estufamento, gases, sonolência ou aquela fome precoce, mesmo após comer. E a explicação para isso pode estar muito além do glúten — que, aliás, virou o grande suspeito dos sintomas sem nem sempre merecer a culpa.
O pão francês é produzido com farinha de trigo branca refinada, que possui baixo teor de fibras e alto índice glicêmico. Isso significa que sua digestão é rápida e provoca picos de glicemia — seguidos por quedas igualmente rápidas, gerando fadiga e fome em pouco tempo. Quando consumido sozinho, especialmente em jejum, esse efeito é ainda mais acentuado. Mas é importante ressaltar: não se trata de eliminar o pão, e sim de saber como e quando consumi-lo.
Outro ponto de atenção pouco comentado é o impacto dos FODMAPs — um grupo de carboidratos fermentáveis que, em algumas pessoas, principalmente aquelas com maior sensibilidade intestinal, podem causar desconforto, inchaço e gases. O pão francês, por conta da fermentação rápida e da composição da farinha, pode conter essas substâncias em níveis que provocam tais reações.
(FODMAPs são tipos de açúcares naturalmente presentes em alguns alimentos que fermentam no intestino, provocando sintomas em indivíduos mais sensíveis.)
Apesar disso, há também um lado positivo na composição do pão francês que muitas vezes é ignorado. Desde 2004, a legislação brasileira obriga que todas as farinhas de trigo comercializadas no país sejam enriquecidas com ferro e ácido fólico. Isso significa que, por lei, a cada 100g de farinha devem estar presentes entre 4 e 9 mg de ferro e entre 140 e 220 µg de ácido fólico — dois micronutrientes essenciais para a saúde pública. Essa fortificação tem como objetivo combater deficiências nutricionais comuns na população, sobretudo entre gestantes, crianças e idosos.
Mas o pão, sozinho, não é o problema. O desafio está na combinação, na quantidade e na rotina alimentar como um todo. Quando incluímos o pão em uma refeição completa — com proteínas, fibras e gorduras boas — o impacto no organismo é muito diferente. Por isso, ao invés de cortar o pão francês da sua vida, que tal incluí-lo com mais consciência?
Sugestões simples podem fazer diferença: em vez de comê-lo puro, acrescente uma proteína (como ovos mexidos, queijos magros ou pasta de atum), adicione fibras com vegetais, ou opte por versões de fermentação natural. E, claro, preste atenção ao seu corpo: ele costuma dar sinais claros sobre como está reagindo aos alimentos.
Como nutricionista, acredito em uma alimentação possível, sem radicalismos ou modismos passageiros. O pão francês pode — e deve — ter lugar na sua mesa, desde que em harmonia com o seu estilo de vida, suas necessidades e seus objetivos. Demonizar alimentos gera culpa, não saúde.
Lembre-se: bem-estar não vem de exclusões arbitrárias, mas de escolhas informadas. Quando você entende o que está por trás dos seus hábitos alimentares, transforma o simples ato de comer em um verdadeiro cuidado com a sua saúde.
Fontes consultadas:
Oswaldo Carius
Nutricionista - CRN 4 - 19100108
@ oswaldocarius_nutricionista
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